domingo, dezembro 11

A Mixirica

Um belo dia o Zeelias deve ter chegado para o grupo e falado mais ou menos assim: "Gente, eu tenho um grupo que faz festas e vocês poderiam trabalhar, ganhar uma grana e a gente também levanta uma verba pro Molambo". Deve ter sido isso. Não lembro direito. Mas era o Venkenké. Pra mim, o delicioooooso Venkenké...
Trabalhávamos como loucos, geralmente ao ar livre e sob o sol forte, em festas do Dia das Crianças e de Fim de Ano, em firmas, nos fins de semana e feriados. Também fazíamos festas em duplas, em aniversários de crianças. Dessa parte não gostava muito. Gostava mesmo das festas grandes. Perdi muitas reuniões domésticas, com minha família, por causa do Venkenké. Mas não ligava. Adorava... dançar como louca ao som do Olhar 43 e de Xuxa, bater no "focinho" dos bonecos (A cabeça rodava e quem estava dentro da fantasia ficava atordoado. O Wilton era meio vítima), os bastidores, com todos se maquiando e se trocando, brincar como criança, me emocionar com o Edson vestido de Papai Noel, atormentar o Zeelias por qualquer motivo besta e até comer aquele lanche horrível e frio numa breve hora de descanso...
A maquiagem que escondia o meu rosto e a roupa colorida me deixavam livres. Me guiava pela máxima inventada pelo Edmar: "Palhaço pode!!". E podíamos tudo. Pirávamos. Não dávamos bola prá ninguém.
Inventei a Mixirica (assim mesmo, com vários 'is'), uma palhaça feminina, a primeira que usou saia na turma, toda de vermelho e branco. Ela foi aparecendo, entre uma festa e outra, um personagem como eu gostava de fazer: delicada, alegre e esperta. Não lembro como surgiu o nome... Mas era sonoro, e eu gostei. Até hoje tenho a roupa, que a Bia de vez em quando usa em suas brincadeiras.
Só odiava quando o Zeelias me mandava colocar outra fantasia, como Cuca, Emília ou bailarina. Era que, com essas fantasias, o personagem era outro, mau, sacana ou delicado de mais... Nada a ver comigo...
Mas, olha só a ironia!!! Foi numa festa em que estava fantasiada de bailarina que conheci a Turma da Mônica, que o William Tucci, amigo do Zé e diretor daquele grupo, me viu e disse assim: "Dá uma passada na Turma da Mônica pra fazer um teste". Isso foi em 86. Passei por uma bateria de testes na Maurício de Souza e ganhei uma vaga, de Magali. Sem que eu procurasse, sem querer, sem muito esforço também, dei o primeiro passo para fora do Venkenké e do Molambo por conseqüência. Fiquei na Maurício quase um ano. O trabalho como Magali inviabilizava o trabalho com o Venkenké e o Molambo.
E tudo vinha a calhar: não aguentava mais os problemas com o grupo, a faculdade de jornalismo tomava cada vez mais o meu tempo e comecei a cansar do trabalho árduo de palhaço. Minha última festa foi pela Rê. Ela já havia morrido.... Mas o Umdois precisava cumprir um contrato, chamou a Lu e a Lu precisava de uma parceira... Lá fomos nós: duas palhaças tristes, num trem, para Pirituba, extremo Norte de São Paulo. Era 19 de dezembro de 88. Dia em que aposentei a Mixirica pra sempre e desisti da vida de atriz.
Vivi